Depois que me acidentei meus horários têm mudado drasticamente. Penso que se deve ao fato de eu ser um cara bem ativo na normalidade, e que dado ao fato de não ter mais despendido toda minha energia ao longo do dia, acabo a acumulando e a gastando nos períodos noturnos.
Estranho como essa forma de gastar energia vem acontecendo,
Tarde da noite, quando a TV já não tem mais programação, os filmes não interessam e os livros não são mais assimilados. Quando ainda não acordaram os pássaros e o sol se espreguiça lá longe pra subir no horizonte, tento me induzir ao sono.
É quando já não mais tenho pra onde escapar que me reencontro com o silêncio. Silêncio esse que me leva a entender um pouco melhor o Zen, a meditação... A dança sem graça dos orientais e suas artes introspectivas. Arco e a flecha sem a competitividade ocidental.
Tomo-me de tanto silêncio que consigo notar quanto barulho há dentro de mim.
Trago então à consciência, após a labuta noturna de vencer o silêncio dos meus barulhos, o paradoxo criado na razão se fazendo pela percepção emocional de mim mesmo, a distância que há entre o que sou pra mim, o que sou pra você, e o que sou de verdade.
Hoje aprendi a direcionar meu foco.
Aprendi a direcionar meus pensamentos e isso vai ser de grande valia se conseguir aplicar na prática, que afinal é o que importa.
Me dei conta de que por mais que compreenda a plenitude oriental na habilidade do uso de seus valores como linhas guias da conduta humana, sou acidental.
Criei padrões ao longo desses meus vinte e sete anos embasados na genealogia da futilidade, impregnados pelo convencionalismo e na obtenção de soluções rápidas e ineficazes no que diz respeito à minha própria evolução quanto ser humano... O materialismo suprindo meus conformismos e a fugacidade suprimindo meu silêncio.
Hoje é sexta feira... Na verdade, madrugada de sábado.
Começou a passar “Into the Wild – Na Natureza Selvagem” no telecine...
Nada acontece por acaso, afinal.
Cedo então ao barulho novamente, mas dessa vez, consciente da direção... Vivo nesse mundo mas na minha realidade.
Pratico então meus devaneios filosófico existenciais, numa simples auto demonstração consagrada pela beleza simples do universo.
Medito em minha ocidentalidade, tentando mais uma vez ser o arco, a flecha e o alvo.
Às vezes vale a pena dormir tarde.
Adoro esse filme e adoro essa música...
“When you want more than you have, you think you need.
And when you think more than you want, your thoughts begin to bleed.
I think I need to find a purer place,
Cause when you have more than you think, you need more space.
Society, you’re crazy breath,
Hope you’re not lonely without me.”
Eddie Vedder – Society